terça-feira, 29 de julho de 2008

A primeira vez a gente nunca esquece

A última sexta-feira marcou quinze anos da data mais importante da história do futebol boliviano, e uma das mais embaraçosas do futebol brasileiro. No dia 25 de julho de 1993, a Bolívia infligia ao Brasil sua primeira derrota na história das Eliminatórias, fazendo dois a zero na altitude de La Paz.

Os bolivianos tentavam chegar a uma Copa do Mundo pela primeira vez desde 1950 e viviam grande fase com o meia Erwin Sanchez e o atacante Marco Etcheverry. Já o Brasil de Parreira sofria com as críticas por um futebol pragmático e ausente de Romário, envolvido num desentendimento com o treinador.

Na primeira rodada, a Bolívia havia massacrado a Venezuela por 7 a 1 em Puerto Ordaz, ao passo que o Brasil não passara de um empate sem gols com o Equador, também fora de casa. O grupo, que tinha ainda o Uruguai, classificava os dois primeiros para o Mundial dos Estados Unidos e uma vitória era essencial para a Bolívia, que sabia da importância de vencer dentro de casa, na altitude, já que seu desempenho longe de La Paz sempre fora insatisfatório.

O estádio Hernando Siles estava lotado e emitia uma vaia ensurdecedora a cada toque brasileiro na bola. O Brasil tentou pressionar logo no início, com Raí controlando os avanços, mas o meio-campo formado por Megar e Valdivieso oferecia muita resistência aos ataques. O primeiro tempo teve um jogo truncado, com poucas chances de gol e muita disputa pela bola.

Com o passar do tempo, a Bolívia impunha seu jogo e o Brasil dava sinais de cansaço. Até que Erwin Sanchez teve a oportunidade de colocar os anfitriões na frente, com um pênalti. Taffarel, contudo, defendeu a cobrança com as pernas. O jogo parecia se encaminhar para um 0 a 0.

Eis que, a dois minutos do fim, Etcheverry recebe passe no meio-campo e avança para a área, pelo lado esquerdo. Ele chuta para o meio, tentando um cruzamento para Sanchez. Taffarel tenta interceptar e desvia para dentro do gol, por debaixo das pernas.

A torcida, em êxtase, ainda comemorava quando o Brasil se lançou inteiro ao ataque, tentando o empate no final do jogo. Mas sem nenhuma organização tática e com espaços de sobra na defesa, a Bolívia retomou a bola e partiu como um foguete para o contra-ataque. Um minuto depois do primeiro gol, o reserva Álvaro Peña recebeu de Etcheverry e bateu na saída de Taffarel.

Fim de jogo. Bolívia 2x0 Brasil. Festa sem precedentes em La Paz, Sucre, Cochabamba, em todo lugar da Bolívia onde se acompanhava o futebol. Explicações – ou tentativas – inúmeras de Parreira, Taffarel, Raí...

“Aquele gol foi um dos pontos mais altos de minha carreira. Eu havia lesionado a coxa logo no início do jogo, mas não podia sair. Minha persistência acabou valendo a pena, afinal foi a partida mais espetacular de que participei”, disse “El Diablo” Etcheverry ao site da Fifa.

Eventualmente, a seleção brasileira golearia os bolivianos na volta, em Recife, teria a volta de Romário, se classificaria no sufoco e venceria a Copa de 94, contrariando todos os prognósticos. A Bolívia também disputaria o Mundial, caindo na primeira fase. Mas talvez se não houvesse aquela derrota no dia 25 de julho, a primeira do Brasil em uma eliminatória, não haveria goleada, volta de Romário e nem tetra.

Ainda bem que perdemos!

Bolivia 2-0 Brasil
25/07/1993, Estadio Hernando Siles, La Paz

Gols: Marco Etcheverry 88, and Alvaro Pena 89.

Bolivia: Trucco; Rimba, Quinteros, Sandy, Borja; Cristaldo, Melgar, Valdivieso, Sanchez; Etcheverry e Ramallo (Técnico: Xabier Azkargorta).
Brasil: Taffarel; Cafu, Valber, Marcio Santos, Leonardo; Mauro Silva, Luis Enrique, Zinho, Rai; Bebeto e Muller (Técnico: Carlos Parreira).



sexta-feira, 25 de julho de 2008

História das Copas - Brasil 1950 (parte II)

O quadrangular final era tido como mera formalidade para o Brasil, uma vez que todos já davam por certa a conquista do título. Depois de uma semana de descanso, o escrete brasileiro entrava em campo para enfrentar os suecos, que haviam eliminado a fragilizada Itália. Resultado: 7 a 1 para o Brasil, com uma exibição de gala. Dias depois, o adversário seria a forte seleção espanhola. Novamente, uma goleada incontestável: 6 a 1.

A Copa que não teria final acabou tendo: na última rodada, o Brasil precisava apenas de um empate diante do Uruguai, que havia vencido a Suécia e empatado com a Espanha. Ninguém acreditava que o Brasil pudesse perder aquele jogo, ainda mais que a seleção uruguaia não era a mesma da década de vinte, quando recebeu o apelido de celeste olímpica. Eles possuíam, entretanto, uma coisa que faltava aos brasileiros: a experiência de um título de Copa do Mundo.

Nos jornais de domingo, dia do jogo, as manchetes eram iguais: BRASIL, CAMPEÃO DO MUNDO. O clima era de confiança total e era só uma questão de horas para que o grito de campeão pudesse ser solto da garganta. Mas ninguém se lembrou de que do outro lado havia outros onze jogadores que também estavam lutando pelo título. Aproveitando-se desse clima de euforia antecipada, o técnico do Uruguai pegou os jornais cariocas e mostrou a seus jogadores, incentivando-os a darem o melhor de si. O Brasil achava que já era campeão do mundo. Mas não contava com a garra e determinação dos uruguaios, nesse que se tornou o episódio mais triste da história do futebol brasileiro.

E que dia triste foi aquele 16 de julho de 1950. O Maracanã era só festa, recebendo o maior público registrado até hoje em uma partida de futebol: os números oficiais falam em 175 mil pessoas, mas há quem diga que cerca de 200 mil brasileiros choraram naquela tarde.

Todos esperavam um belo espetáculo de futebol e uma boa apresentação, especialmente do craque da Copa, Ademir de Menezes. O que se viu, entretanto, foi um jogo truncado, um Brasil acuado e diferente daquele que todos estavam acostumados. Ainda assim, Friaça abriu o placar aos dois minutos do segundo tempo, para delírio da torcida. O clima de tensão que pairava no ar parecia ter se dissipado: precisando apenas do empate, a vitória parcial já era para todos garantia do título. Nem o gol de empate de Schiaffino, aos 21 minutos, preocupou os brasileiros: a sensação era de que o gol poderia ser feito a qualquer momento, tamanha a displicência com que a seleção jogava.

A torcida já comemorava e bradava "é campeão" quando, aos 34, Ghiggia avançou pela direita, entrou na área e deu um chute cruzado, rasteiro, que quicou no gramado e enganou o goleiro Barbosa, morrendo no fundo das redes. O Brasil calou-se. A única coisa que se ouvia no estádio eram os gritos dos uruguaios, lá no campo, comemorando o gol. A torcida, estarrecida, ficou muda e não apoiou mais o time que, sem reação, não conseguiu produzir mais nada nos dez minutos restantes.

Quando o juiz inglês George Reader apitou o fim do jogo, o que se via eram pessoas chorando nas arquibancadas, muita revolta mas, principalmente, muita tristeza. Esse dia ficou conhecido como o Maracanazzo e o goleiro Barbosa, falecido há poucos anos, carregou o fardo de ter sido considerado o culpado pela derrota brasileira.

E foi assim a final de Copa do Mundo mais triste de todos os tempos.

IV Copa do Mundo - 1950 - Brasil

Campeão: Uruguai
Vice: Brasil
3º lugar: Suécia
4º lugar: Espanha

Período: de 24 de junho a 16 de julho de 1950
Total de jogos: 22
Gols marcados: 88
Média de gols: 4 por partida
Artilheiro: Ademir de Menezes (Brasil) - 9 gols.

O Brasil: Vice campeão - 6 jogos (4V, 1E e 1D), 22GP/6GC
Jogos: Primeira fase: Brasil 4x0 México (Ademir (2), Jair e Baltazar)
Brasil 2 x 2 Suíça (Alfredo e Baltazar/Fatton)
Brasil 2 x 0 Iugoslávia (Ademir e Zizinho)
Fase final: Brasil 7 x 1 Suécia (Ademir (4), Chico (2) e Maneca / Andersson)
Brasil 6 x 1 Espanha (Parra (c), Zizinho, Jair e Chico (3) / Igoa)
Brasil 1 x 2 Uruguai (Friaça / Schiaffino e Ghiggia)

terça-feira, 22 de julho de 2008

Craques das Copas - Eusébio


"Pantera Negra" ou "Pérola Negra". São esses os apelidos mais comuns de Eusébio, o maior jogador português de todos os tempos, que demoliu as defesas adversárias na Copa de 66. Nascido em Moçambique, colônia portuguesa hoje independente, começou aos 16 anos no clube local, o Sporting Club Lourenço Marques. Apesar de não possuir um físico muito avantajado, sua habilidade prevalecia sobre os demais e logo os dois grandes clubes rivais de Lisboa, Sporting e Benfica, brigavam pelo atacante. Após meses de disputas nos bastidores, ele assinou com o Benfica.

Em sua primeira partida no novo clube, o artilheiro nato marcou um gol na vitória sobre o Santos de Pelé, em um amistoso. No campeonato português, alcançou a incrível marca de 317 gols em 301 jogos. Além dos chutes precisos, possuía uma velocidade impressionante. Em 1962, foi a principal estrela da campanha vitoriosa de sua equipe na Copa dos Campeões Europeus (atual Liga dos Campeões), derrotando o poderoso
Real Madrid de Di Stéfano.

Neste mesmo ano, fez sua primeira partida pela seleção portuguesa, após ter se naturalizado. Foi fundamental nas eliminatórias, classificando os portugueses para a Copa pela primeira vez na história. Na primeira fase, marcou um gol contra a Bulgária e dois contra o Brasil. Com a vitória também sobre a já desfigurada Hungria, Portugal avançou em primeiro no grupo e a essa altura já era candidato ao título.

Nas quartas-de-final, seus quatro gols foram fundamentais para a virada histórica contra os surpreendentes norte-coreanos. Entretanto, na semifinal, embora tenha marcado um de pênalti, Eusébio não pôde evitar a derrota para os donos da casa. O terceiro lugar conquistado sobre a União Soviética (com mais um gol do atacante) teve um sabor não muito agradável. Ficou de consolo a artilharia da competição, com nove gols marcados.

Pelo fato de ter jogado a maior parte de sua carreira em Portugal, onde os clubes não eram exatamente do primeiro escalão europeu, a Copa de 66 foi uma das únicas vezes em que todo o mundo pôde ver a genialidade de Eusébio. Os jogadores portugueses ainda estavam muito aquém do nível do "pérola negra" e a seleção não se classificou para as Copas de 70 e 74. No ano da Copa da Alemanha, foi jogar na América do Norte, defendendo clubes dos Estados Unidos e Canadá, voltando a Portugal para disputar mais uma temporada, desta vez no modesto Beira Mar, onde sofreu uma grave contusão no joelho. Voltou, surpreendendo a todos, encerrando sua carreira em 78 no Monterrey, do México.

Nome: Eusébio da Silva Ferreira
Data de nascimento: 25/01/1942
Local de nascimento: Lourenço Marques, Moçambique

Carreira:

Em clubes:
1958 a 1960: Sporting Club Lourenço Marques (Moçambique)
1960 a 1974: Benfica (Portugal) - onde marcou 317 gols em 301 jogos
1974 e 1975: Boston Minutemen (EUA)
1976: Toronto Metros (Canadá)
1976 e 1977: Beira Mar (Portugal)
1977 e 1978: Monterrey (México)

Na seleção:
41 gols em 64 jogos (9 na Copa de 66, onde foi artilheiro isolado)

Títulos:
1962: Campeão Europeu
1961, 1963 a 1965, 1967 a 1969 e 1971 a 1974: Campeão Português
1962, 1964, 1969, 1970 e 1972: Campeão da Copa Portuguesa
7 vezes artilheiro do campeonato português

quinta-feira, 17 de julho de 2008

História das Copas - Brasil 1950 (parte I)

Durante a Segunda Guerra Mundial, não houve disputa da Copa do Mundo, que teria edições em 1942 e 1946. Após o término da guerra, em 1948, o Brasil foi candidato único a sede da Copa, pois nenhum país europeu apresentava condições de sediar o torneio devido à destruição que ela causara. No Conselho Anual da FIFA de 1946, ficou decidido que quem vencesse a Copa por três vezes ganharia posse definitiva da Taça Jules Rimet, que durante a guerra ficou escondida numa caixa de sapatos embaixo da cama do Vice Presidente da entidade, o italiano Ottorino Barassi.

Nas eliminatórias, a Argentina desistiu mais uma vez, classificando automaticamente Bolívia e Chile, juntamente com Uruguai e Paraguai. México e Estados Unidos se classificaram na CONCACAF e nenhum time africano se inscreveu. Na Ásia, Índia, Birmânia e Filipinas desistiram. Na Europa, a França se classificou graças à desistência de Portugal, mas os franceses abriram mão da vaga por considerarem a tabela muito cansativa. Turquia e Áustria também desistiram depois de conquistarem suas vagas, e a Copa foi disputada por 13, e não por 16 times. A Inglaterra disputou as eliminatórias e foi para a Copa pela primeira vez, deixando de lado a soberba. Brasil (país sede) e Itália (atuais campeões) não precisaram passar pelo crivo das preliminares.

A Copa abandonava o sistema de jogos eliminatórios e dividia seus times em quatro grupos de 4 cada - embora isso não tenha ocorrido, pois com a desistência dos 3 europeus, um grupo ficou com 3 seleções e outro com apenas duas: Uruguai e Bolívia. A fase final foi disputada em um quadrangular com os campeões dos quatro grupos, onde quem pontuasse mais venceria. Foi a única Copa sem final, embora o último jogo tenha sido uma das maiores finais de todos os tempos.

O Maracanã era a grande vedete do Mundial brasileiro. O estádio com capacidade para 220 mil pessoas começou a ser construído em 1948, mas não ficou pronto em tempo e teve seus jogos disputados ao mesmo tempo em que obras eram feitas do lado de fora e em toda a infra-estrutura.

Primeira fase

O Brasil não teve muitas dificuldades para terminar em primeiro no seu grupo. Na abertura da Copa, uma vitória fácil por 4 a 0 sobre o México, com dois gols de Ademir de Menezes, um de Jair e um de Baltazar. Já a segunda partida foi mais complicada: pressionado pela torcida paulista, Flávio Costa mudou a escalação, que tinha um time titular predominantemente carioca. Alfredo abriu o placar logo com dois minutos de jogo. Fatton empatou aos 16 e a partir daí o Brasil se viu diante de uma retranca impenetrável, chamada na época de Ferrolho. Baltazar colocou a equipe novamente à frente aos 31, mas a vitória escapou aos 43 do segundo tempo com outro gol de Fatton.

A última partida da primeira fase tomara um tom dramático, pois o Brasil precisava vencer a Iugoslávia, que havia ganhado seus dois primeiros jogos, para se classificar à fase final. Um empate bastava para os iugoslavos, mas o Brasil deu show diante de 150 mil entusiasmados espectadores e venceu com gols de Ademir e Zizinho, um em cada tempo. O sufoco havia passado e estávamos na fase final.

No Grupo 2, a cabeça-de-chave Inglaterra viu sua suposta superioridade no futebol ser posta à prova: venceu somente o Chile, perdendo para a Espanha, classificada do grupo, e para os Estados Unidos, uma zebra histórica. O jogo, realizado no estádio Independência, em Belo Horizonte, terminou com uma eufórica torcida invadindo o campo, como se o vencedor fosse o time da casa.

Já no Grupo 3, apenas três times: Itália, Suécia e Paraguai. A Azzurra levara um forte golpe um ano antes, quando um acidente aéreo matou todos os jogadores do Torino, time-base da seleção italiana. Craques como Mazzola e Gabetto estavam no avião, e a Itália não conseguiu suprir a ausência desses jogadores, sendo eliminada pela Suécia.

Finalmente, no Grupo 4, apenas Uruguai e Bolívia disputaram a Copa. Em um jogo único do grupo, o Uruguai goleou os bolivianos por 8 a 0 e se classificou para o turno final.

Brasil, Uruguai, Espanha e Suécia começariam a disputar, então, o quadrangular final da Copa do Mundo de 1950.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Arábia Saudita efetiva técnico interino; morre ex-treinador de Benin

A Federação Saudita decidiu efetivar Nasser Al Johor como treinador da seleção nacional para a disputa da fase final das eliminatórias asiáticas. Al Johor assumiu interinamente após a demissão de Hélio dos Anjos, que foi muito criticado durante a etapa anterior - a Arábia só ultrapassou o Usbequistão na última rodada do grupo 4.

"O comitê decidiu que ele permanecerá no cargo até a disputa da Copa da África do Sul", afirmou Faisal Al Abdulhadi, secretário-geral da federação saudita, demonstrando confiança no escolhido.

A Arábia Saudita está no grupo 2 da fase final, ao lado das Coréias do Sul e do Norte, Irã e Emirados Árabes Unidos. Os dois primeiros colocados garantem vaga no Mundial, enquanto o terceiro se classifica para a repescagem.

Benin

Morreu ontem Reinhard Fabisch, treinador da seleção do Benin durante a Copa Africana de Nações deste ano. Ele havia substituído Wabi Gomez após os esquilos se classificarem pela segunda vez na história para a fase final do torneio. A seleção foi eliminada na primeira fase, com três derrotas.

A equipe de Benin chegou a se preparar para a CAN no Brasil: um período de treinamentos de uma semana no CT do Botafogo, no Rio de Janeiro. Fabisch causou polêmica ao afirmar ter sido procurado por um grupo asiático ligado a apostas para entregar o jogo contra Mali. Antes de comandar Benin, Fabisch treinou Zimbábue e Quênia. Ele deixou o cargo em abril, pois já enfrentava problemas de saúde.

*Com informações da Trivela

segunda-feira, 14 de julho de 2008

França-98, dez anos


Boa lembrança me deu o amigo Dassler Marques, com seu pertinentíssimo post sobre a final da Copa de 98. No sábado, fez dez anos da conquista francesa sobre o Brasil, naquela que foi a maior derrota da seleção brasileira em Copas.

Já disse PVC que quem mais entende de futebol é o garoto por volta de seus dez, quinze anos. Tenho mais lembranças daquela Copa, quando tinha 14 anos, do que tenho dos Mundiais de 2002 e 2006. Se em 94, aos dez, vibrei com a conquista logo na primeira Copa que assistia do começo ao fim, em 98 devorei tudo o que havia sobre o último Mundial do século. Vivenciei com a emoção de uma criança que vai pela primeira vez ao estádio.

Por isso, lembro com exatidão aquele domingo. Eu no sofá de casa, com a camisa da seleção e um pacote enorme de Fandangos. Minha prima ao lado, meus pais no outro sofá. Lembro de toda a tensão pré-jogo, e de ter comemorado a escalação de Edmundo. Após o jogo, uma decepção incomensurável não só pela derrota, mas pela espera que parecia interminável por mais quatro anos para outra Copa.

Aquele foi talvez o último jogo em que eu torci verdadeiramente pela seleção. Com alma de torcedor. De se ajoelhar, de gritar, de chorar a derrota. E se é na derrota se que aprende, aprendi numa das maiores derrotas, e sendo assim da maneira mais contundente, que deixava de ser um torcedor apaixonado, um menino, para me transformar em um analista crítico.

Faz dez anos que Zidane me fez viver o meu próprio Maracanazzo. Tal qual na vida, no futebol parece que precisamos sempre passar por um grande trauma para deixarmos a fase da inocência. E foi exatamente o que aconteceu, há dez anos.

Como o tempo passa.