quarta-feira, 13 de agosto de 2008

O desafio de Brückner

Publicado originalmente na coluna Futebol Alpino da Trivela.

Pegou todos de surpresa a nomeação de Karel Brückner como novo técnico da seleção austríaca. O tcheco de 68 anos assumiu no lugar de Joseph Hickersberger, que deixou o cargo após a Eurocopa. Brückner comandou seu país no torneio continental, mas também não conseguiu a classificação para as quartas.

Apesar do renome e da experiência do escolhido, a surpresa não foi positiva. Após as recusas de Ronald Koeman e Mirko Slomka, os nomes mais prováveis eram Johan Neeskens ou Didi Constantini, que já comandou a seleção na década de 90. A ÖFB, entretanto, decidiu apostar no currículo do tcheco, semifinalista da Euro 2004. A reação da imprensa e da torcida foi imediata e nada animadora.

Quem pegou mais pesado foi Felix Gasselich, ex-jogador de Áustria Viena, Ajax e da seleção. “Logo após o anúncio, recebi cerca de trinta ligações e nenhuma foi amistosa. A Áustria tem finalmente uma nova geração de talentos e, ao invés de um técnico moderno, de visão, escolheram um quase aposentado”, afirmou com contundência.

Gasselich tem razão, ao menos em relação aos jovens que surgem agora no país. O elenco quarto colocado no Mundial Sub-20 do ano passado, no Canadá, pode fornecer quase um time inteiro para os próximos anos. E com a aposentadoria de estrelas do passado, como Vastic e Ivanschitz, haverá ainda mais espaço para o desenvolvimento dessas promessas na seleção principal desde já – estratégia que deu certo na vizinha Alemanha.

O momento é muito favorável. Apesar da eliminação em casa na primeira fase, esta foi a estréia austríaca nas finais de uma Euro – e a primeira competição de ponta em oito anos, desde a Copa de 98. Jovens como Erwin Hoffer e Sebastian Prödl, que já fazem parte da seleção principal, vivenciaram uma experiência fundamental para se tornarem ícones da renovação. Hoffer marcou quatro gols no final de semana pelo Rapid Viena e é vice-artilheiro da Bundesliga, com cinco. Prödl tem agradado muito na pré-temporada e será titular da lateral-direita do Werder Bremen, desenvolvendo-se em um centro melhor, ao lado do atacante Martin Harnik.

Outros garotos da geração ’87 vão ganhando seu espaço, como o habilidoso Rubin Okotie, do Áustria Viena. Brückner tem ainda outras opções, como o atacante-sensação da temporada, Marc Janko, do Red Bull Salzburg. O artilheiro do campeonato, com sete gols em seis jogos, tem 27 anos e pode ganhar nova chance.

Brückner, contudo, já avisou que não deve promover mudanças drásticas em relação ao trabalho desenvolvido por Hickersberger – mesmo a seleção tendo vencido apenas duas das últimas 19 partidas. “Não temos muito tempo. Vou assistir aos DVDs dos jogos, mas na Euro pude ver que o time jogou bem, apesar dos resultados”, disse na apresentação.

Para sua estréia, no amistoso com a Itália no dia 20, Brückner deve então manter o grupo da Euro em sua convocação. Dependendo do resultado, as mudanças podem acontecer já para a estréia nas eliminatórias para a Copa, diante da França, no dia 6.

Prejudicada pelos maus resultados dos últimos anos, a Áustria caiu no ranking da Uefa e terá um grupo dificílimo pela frente: além dos Bleus, enfrentam uma Romênia empolgada pela campanha na Euro e a talentosa e sempre eficiente equipe da Sérvia. Jogando também com Lituânia e Ilhas Faroe, a Áustria aparece como quarta força do grupo – muito pouco para voltar ao Mundial.

Brückner, no entanto, se mostra confiante. “A classificação não é um sonho, mas um objetivo”, disse, esquivando-se de prometer resultados. Talvez por isso a escolha tenha sido criticada: outros treinadores, sem tanta pressão contrária, poderiam assumir um trabalho de reestruturação pensando não em 2010, mas para adiante.

De qualquer forma, o desafio de Brückner será enorme. Para se ter uma idéia, até mesmo o ex-jogador Andreas Herzog, assistente técnico de Hickersberger que continuará na função, não escondeu seu descontentamento. “Confesso que tinha a esperança de ser efetivado, mas sei que aprenderei muito com ele e espero que isso pese para que eu possa assumir a seleção um dia”, disparou.

Se um dos argumentos contrários ao tcheco era de que ele não poderia ter mais muita motivação aos 68 anos, fica a certeza de que, exatamente daí, ele pode extrair seu entusiasmo: assumir a Áustria mesmo com tantos empecilhos será o maior desafio da vida de Brückner.

Nenhum comentário: